Obesidade infantil
Obesidade infantil – um tema a revisitar em tempos de pandemia
A obesidade é considerada doença pela Organização Mundial de Saúde desde 2000, definindo-se como “excesso de gordura corporal acumulada que pode atingir graus capazes de afetar negativamente a saúde”.
Cerca de 97% dos casos de obesidade infantil surgem por maus hábitos alimentares e comportamentais. Maus hábitos de sono, ambiente sociocultural desfavorável, stress físico e psicológico podem desencadear ou agravar uma obesidade.
Numa minoria (< 3%), é consequência de doenças hormonais, neurológicas ou toma prolongada de medicamentos.
Em Portugal, 30% das crianças têm excesso de peso e mais de 10% têm obesidade. A pandemia COVID-19 tem contribuído para o aumento da prevalência destes diagnósticos. As crianças e jovens estão mais sedentários e fazem escolhas alimentares desadequadas em qualidade e quantidade, pelo que o balanço entre estes dois fatores favorece invariavelmente o aumento de peso.
A obesidade infantil não deve ser tema tabu e deve ser conversada nas consultas médicas e também por familiares ou amigos que queiram ajudar.
É uma doença crónica e complexa, pelo que é essencial uma abordagem multidisciplinar:
– Pediatra ou médico de família: diagnóstico e orientação clínica
– Pais/família: motivação, confiança, entrega e compromisso
– Nutrição: elaboração de um plano alimentar personalizado, tendo em conta as necessidades e gastos energéticos de cada criança
– Psicologia: gerir comportamentos de risco e frustração, apenas quando necessário
A forma mais fácil de prevenir a obesidade é evitar o ganho de peso excessivo. Depois de instalada, torna-se muito mais difícil (mas possível!) voltar atrás.
As crianças e os adolescentes são seres dependentes, seguem o exemplo dos pais no dia-a-dia e consomem o que lhes é oferecido. Posto isto, a mudança de estilo de vida de toda a família é fundamental para combater esta doença e ter sucesso a longo prazo.
Algumas dicas práticas:
1. Os pais são os responsáveis – incentivar a mudança de hábitos de toda a família.
2. Atenção aos avós: cuidado com “mimos”/comida oferecidos às crianças diariamente.
3. Alimentos proibidos em casa: sumos, bolachas de chocolate, cereais, batata frita, molhos, enchidos, chocolates.
4. Atenção às quantidades: ¼ do prato de hidratos, ¼ de prato com carne/peixe/ovo e o resto com legumes. Evitar travessas na mesa (não repetir!).
5. Mastigar 10-15 vezes o mesmo alimento, e comer devagar!
6. Refeições em família com horários e sem ecrãs – dieta equilibrada e saudável para todos, com sopa de primeiro prato (sem batata), fruta de sobremesa e água a acompanhar.
7. Praticar atividade física diariamente – estruturada ou não; incentivar a ser ativo em casa - bicicleta, jogar à bola, brincar ativamente, tarefas domésticas.
8. Tentar descobrir a atividade/desporto que a criança gosta e acompanhá-la para que seja um momento de união e lazer.
9. Fazer ≥5 refeições por dia (pequeno-almoço, meio da manhã, almoço, lanche, jantar). Evitar snacks açucarados na escola e à noite.
10. Não culpar a criança – promover um espírito de companheirismo e entreajuda.
Artigo elaborado por:
Inês Pedrosa
Interna de Formação Especializada em Pediatria do Centro Hospitalar de Leiria
Julho de 2021
Julho de 2021