A Psicologia afirmou-se como ciência autónoma há mais de cem anos. Desde então constituiu um conjunto de teorias, modelos, metodologias, técnicas e intervenções exclusivas. O desenvolvimento da Psicologia deriva do aparecimento de um elevado número de escolas que potenciaram a investigação, formação e aplicação dos saberes produzidos. Os avanços tornaram-na numa disciplina influente e com aplicações muito diversas em todas as áreas de intervenção do ser humano. Desenvolveram-se múltiplos contextos de aplicação, como a Psicologia Clínica e da Saúde, entre muitos outros. Também é reconhecido um foco diferenciado que vai desde a intervenção individual à intervenção na comunidade, passando pela intervenção com casais, famílias ou grupos. Em simultâneo, surgiram as principais organizações da Psicologia, tanto científicas como profissionais, que têm um papel fundamental na afirmação da disciplina e da profissão, clarificando papéis, competências e áreas de intervenção. Um extenso trabalho tem levado ao reconhecimento da profissão e à sua progressiva inclusão nos serviços prestados pelos governos e sociedade, seja através da integração em contextos públicos, ou sob a forma de profissão liberal. É hoje evidente o contributo que a Psicologia tem dado na promoção da saúde e do bem-estar, no desenvolvimento de competências diversas, na integração e redução das desigualdades no ser humano. Em Portugal, a Lei 57/2008 de 4 de Setembro, criou a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) e aprovou os seus Estatutos. Esta lei atribui à OPP a exclusividade da atribuição do título profissional, demarcando assim a prática técnico-científica da Psicologia de outras «terapias não-científicas». O Código Deontológico, a que todos os psicólogos estão sujeitos, estabelece-se como referencial de elevada exigência na prática profissional. A OPP tem desenvolvido ainda um conjunto de linhas de orientação (guidelines) para aspectos diferenciados da prática profissional, ou seja, consensos de aplicação que reflectem o estado do conhecimento e de entendimento de boas práticas em Psicologia, em linha com a investigação nacional e internacional, configurando uma coerência científica, formativa e organizativa. Nunca é de mais reforçar a consciência de todos, que a Psicologia é uma ciência com modelos, metodologias, técnicas e intervenções exclusivas, tendo autonomia científica, técnica e organizativa nos diversos âmbitos da sua aplicação. Esta autonomia traduz-se na capacidade de auto-organização dos profissionais em estruturas próprias, com o fim da prestação do mais elevado padrão de serviços aos utentes. Quando enquadrados noutras estruturas (p.e., Serviços de Saúde), deve ser reconhecida aos psicólogos, a independência técnico-científica para o exercício da sua prática profissional. A autonomia organizativa não deve comprometer a necessidade do trabalho em equipa. Aí deverá ser imprimido um esforço de colaboração com outros profissionais, respeitando os princípios estabelecidos da prestação de ajuda, centrando-se na promoção da saúde e na intervenção preventiva ou remediativa, na resolução de problemas de índole psicológica, psicossocial e física que surjam nos diversos contextos, nos quais as pessoas, na sua individualidade, são o alvo prioritário da intervenção.

 

Artigo elaborado por: 

Paulo José Costa

Assistente de Psicologia Clínica do Centro Hospitalar de Leiria

(artigo escrito sem o actual acordo ortográfico)