Ainda Há Tempo Para Corrigir
“As nossas ações são o nosso futuro” é o tema proposto em 2021 pela FAO (Food and Agriculture Organization) para assinalar o Dia Mundial da Alimentação no próximo dia 16 de outubro.
A preocupação mundial é obter melhor produção, melhor nutrição, melhor ambiente e uma vida melhor. Para isso precisamos de sistemas agroalimentares sustentáveis que sejam capazes de assegurar uma variedade de alimentos suficientes, nutritivos e seguros, disponíveis a preços acessíveis a todos, para que ninguém passe por situações de fome – cerca de 40% da população mundial não pode pagar por uma alimentação saudável.
De acordo com um estudo publicado na Nature Food, os sistemas alimentares mundiais são responsáveis por mais de um terço das emissões antropogénicas globais de gases de efeito estufa. O cultivo inadequado de alimentos pode destruir habitats naturais, contribuir para a extinção de espécies, para perda de biodiversidade, e os solos são degradados como consequência de uma agricultura intensificada pelo consumo crescente de determinados alimentos e pela crescente quantidade de alimentos que desperdiçamos.
Qual o nosso papel num sistema agroalimentar? As políticas governamentais poderão ser redefinidas ou implementadas de modo a promoverem a produção sustentável de alimentos nutritivos a preços acessíveis.
Mas, e nós? Como consumidores, os alimentos que escolhemos, produzimos, preparamos, cozinhamos e armazenamos fazem de nós participantes ativos neste sistema. Conhecer o alimento, a sua origem, a sua sazonalidade e fazer escolhas sábias para a prática de uma alimentação saudável pode ajudar a proteger o meio ambiente, apoiar os pequenos agricultores e baixar o desperdício alimentar.
Durante a frequência da minha licenciatura, na década de 80, aprendia-se que os campos deveriam ser respeitados, assim como os tempos e intervalos de culturas para “não cansar nem esgotar” os solos. Sim, não aprendi apenas sobre Nutrição; aprendi também sobre agricultura. Aprendi ainda que uma alimentação saudável se apoiava em quatro pilares importantes: quantidade, qualidade, harmonia e adequação. Com estes pilares respeitava-se o indivíduo e as suas necessidades nutricionais básicas, crenças e hábitos, a diversificação da alimentação, o equilíbrio entre os alimentos, e ainda a sua sazonalidade, sendo deste modo possível tirar o maior partido de cada um deles.
Redefinir o nosso comportamento pode ajudar na mudança. As nossas escolhas atuais como consumidores afetarão o amanhã da nossa descendência.
Porque não voltar então à nossa “Dieta Mediterrânica”, definida pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade, como base da nossa alimentação diária?
Partilho pequenos gestos que podem contribuir para uma grande mudança:
Conheça e escolha o seu alimento. Por exemplo, a classificação das Zonas de Pesca pode ajudá-lo a perceber se está a ajudar e apoiar a economia local e a legalidade da captura;
Escolha frutas e legumes originários do seu país;
Opte por produtos “da época”;
Se tiver disponibilidade, frequente o mercado local dos pequenos agricultores;
Pratique a reciclagem alimentar (reaproveitamento de sobras transformando-as em novos pratos);
Aprenda a aproveitar todas as partes dos alimentos que acha não servirem para nada (talos dos vegetais, cascas de batata, cascas de banana);
Organize o seu frigorífico e faça uma boa conservação dos alimentos, evitando a sua deterioração. Se ainda assim algum tiver um “toque”, aproveite o máximo que conseguir; pode ainda optar pela compostagem doméstica;
Compre apenas o que lhe faz falta;
Modere a ingestão de proteína animal;
POUPE ÁGUA! Ela é indispensável à vida.
Graça Medina
Nutricionista no CHL
Outubro de 2021
