Dia da Deficiência de Alfa-1 Antitripsina
Dia da Deficiência de Alfa-1 Antitripsina
O défice de alfa-1-antitripsina (DAAT) não é, por si mesmo, uma doença, mas sim uma condição genética que aumenta o risco de desenvolver doença pulmonar e hepática.
A alfa-1-antitripsina (AAT) é uma glicoproteína codificada no gene SERPINA1, do cromossoma 14 e produzida essencialmente no fígado, cuja principal função é inibir enzimas pulmonares, nomeadamente a elastase neutrofilica. Em condições normais, ocorre a destruição de uma molécula de AAT para cada elastase inibida. No entanto, em condições patológicas, com níveis séricos reduzidos, estes são insuficientes para proteger os pulmões da ação da elastase e de outras agressões, o que leva a alterações na estrutura pulmonar.
Além disso, fatores ambientais, como o tabagismo são fatores de risco adicionais e estão relacionados com uma progressão acelerada da doença.
É um distúrbio genético autossómico codominante, com uma prevalência na Europa Ocidental de 1/2500 e com 120 mutações identificadas atualmente.
As variantes são nomeadas com letras do alfabeto e são classificadas em quatro grupos: normal (nível sérico e função normais - alelos M); deficiente (nível sérico reduzido - alelo Z); nulo (nível sérico indetetável) e disfuncional (nível sérico normal, mas com função reduzida). O fenótipo normal é PI*MM e a mutação Z a mais comum (cerca de 95% dos casos).
Apesar de poderem ser assintomáticos, 80% dos doentes são identificados a partir da investigação de sintomas respiratórios. Os sintomas mais frequentes são a dispneia, que agrava com o esforço, pieira, tosse, expetoração ou infeções respiratórias frequentes.
Para além dos sintomas, os doentes apresentam um declínio mais acentuado da função pulmonar e, nos exames de imagem, evidenciam enfisema panlobular com predomínio nos lobos inferiores geralmente com início precoce.
O diagnóstico é estabelecido quando níveis séricos reduzidos são encontrados concomitantemente com um fenótipo relacionado à doença. O diagnóstico molecular (genotipagem) é um método de exceção para identificação de variantes raras.
Os pontos-chave do tratamento são o controlo dos sintomas e a prevenção de complicações, promovendo um estilo de vida saudável e evitando comportamentos de risco: evitar exposição ativa ou passiva ao fumo de tabaco; evitar consumo de álcool ou outros agentes agressores hepáticos; estimular a prática de exercício físico regular; evitar excesso de peso e obesidade; evitar, ou tratar precocemente, infeções respiratórias; cumprir todas as vacinas aconselhadas.
Os doentes podem receber tratamento farmacológico, oxigenoterapia, ou ser incluídos em programas de reabilitação respiratória, sendo o transplante pulmonar uma opção para aqueles com doença pulmonar avançada.
Atualmente existe um tratamento específico para a doença pulmonar secundária ao DAAT. Baseia-se na administração de fármacos intravenosos semanalmente que visam elevar os níveis séricos da proteína e, assim, reconstituir a defesa pulmonar. Os benefícios da terapêutica são mais expressivos em determinados grupos de doentes, de modo que esta está reservada para aqueles que apresentam doença pulmonar clinicamente estabelecida e progressiva, apesar de terapêutica médica otimizada.
Apesar de todos os avanços, a mortalidade associada a esta condição ainda é substancial, sendo cerca de 19% aos 5 anos.
A baixa prevalência e conhecimento da patologia têm impossibilitado um diagnóstico mais atempado, geralmente com intervalo de vários anos entre o início dos sintomas e a identificação da doença. Por forma a promover a sua divulgação, foi criada em Portugal uma associação, a Associação Alfa 1 Portugal.
O reconhecimento do DAAT como causa de doença pulmonar é importante porque o seu diagnóstico precoce permite uma intervenção mais atempada e evicção do desenvolvimento de formas mais graves da doença.
Maria João Silva
Interna de formação específica de Pneumologia do Centro Hospitalar de Leiria