Maria Carmo-Fonseca falou de estratégias para o Centro de Investigação do CHL

«É fundamental que identifiquem o que vos torna únicos, onde possam obter resultados de excelência para a inovação»

«É fundamental que identifiquem o que vos torna únicos, diferentes de todos os outros centros. Para sermos bons temos de nos especializar, e por isso devem encontrar um nicho de mercado que vos distinga, áreas onde podem ser conhecidos e onde possam obter resultados de excelência para alcançar a inovação», aconselhou Maria Carmo-Fonseca, investigadora convidada da quarta conferência do Centro de Investigação do Centro Hospitalar de Leiria, que decorreu no dia 5 de abril, no auditório do Hospital de Santo André, em Leiria.
 
Elisabete Valente, diretora clínica do CHL, fez uma breve apresentação da oradora da conferência e lançou um desafio à plateia do auditório do HSA: «Espero que depois de ouvirmos a doutora Maria Carmo-Fonseca fiquemos com o bichinho da investigação». O coordenador do Centro de Investigação do CHL, João Morais, agradeceu a presença da investigadora no Centro Hospitalar e destacou o facto de ser uma das cientistas de maior relevo em Portugal. Maria Guarino, investigadora e docente do Politécnico de Leiria, fez uma breve apresentação da convidada, destacando a atribuição em 2010 do Prémio Pessoa à investigadora, sendo a primeira mulher distinguida com este galardão.
 
Maria Carmo-Fonseca mostrou-se satisfeita pelo convite do CHL, na medida em que o Centro de Investigação do CHL foi criado fora de um centro hospitalar universitário, o que, na sua opinião, é “pensar fora da caixa” e é uma experiência a seguir. A presidente do Instituto de Medicina Molecular e docente na Faculdade de Medicina de Lisboa abordou os conceitos inerentes a um centro académico de Medicina, que aproxima a investigação dos cuidados de saúde.
 
Num centro clínico académico as descobertas científicas chegam à prática rapidamente, graças aos ensaios clínicos, o que permite o acesso facilitado a medicamentos inovadores. «Em Portugal temos um número de ensaios clínicos ridiculamente baixo, e os governantes sabem disso. É necessário aumentar os ensaios clínicos para inovar em termos de apoios, e fazer chegar a inovação a quem mais precisa dela», advogou Maria Carmo-Fonseca.
 
A oradora salientou ainda que «é necessário que os gestores hospitalares tenham consciência que os investigadores vão trabalhar para além da sua rotina e que necessitam de tempo para o fazer. Para um médico se dedicar à investigação, também é importante ter algum benefício na sua carreira». A cientista também focou a questão da multidisciplinariedade das equipas: «Um centro académico não é só feito por médicos, mas também por enfermeiros, físicos ou técnicos de laboratório, que interagem e evoluem em conjunto. E não esquecer as áreas do direito, dos negócios, das finanças e da política, já que a investigação cada vez mais recorre e necessita destas esferas».
 
Sobre a formação ministrada nas faculdades de Medicina, Maria Carmo-Fonseca considera que «não estamos a ensinar suficientemente bem os médicos para serem médicos investigadores, e é preciso colmatar esta falha, a qual será extensiva aos outros profissionais. Deve ser feita uma reciclagem em termos de formação científica, para aprender a metodologia da investigação, a fim de saber como apresentar uma ideia para alguém financiar e apoiar a investigação». Relativamente aos fundos para a investigação clínica, a cientista defende que a “corrida” é igual para todos.
 
Helder Roque, presidente do Conselho de Administração, agradeceu a intervenção da investigadora, e afirmou que «somos um grande Centro Hospitalar, de referência, em que com pouco fazemos muito. Somos formigas e não cigarras, pois só assim nos conseguimos diferenciar». O presidente do CA ainda deixou uma dúvida à oradora: «Segundo a legislação, um centro académico tem de ter uma universidade associada e nós temos o Politécnico de Leiria, com quem temos uma ligação muito profícua. Como podemos criar um centro académico que consolide esta parceria, já que estamos limitados por um decreto-lei?»
 
A docente Maria Carmo-Fonseca assegurou que «é o momento certo para mostrar que existem outros modelos capazes de promover a investigação e a experiência CHL/Politécnico de Leiria pode ser um deles. Precisam de dinamizar o que fazem de melhor e mostrar isso mesmo aos governantes. Podem realizar parcerias aproveitando a indústria local para a criação de novos dispositivos e equipamentos. A inovação só depende da abertura de espírito das vossas instituições».

9 de abril de 2018