Triste ou deprimido?
Falemos de Saúde Mental: Triste ou deprimido?
A pandemia Covid-19 trouxe enormes desafios para todos nós. Muitos perderam entes queridos e, ou viram as suas vidas profundamente alteradas. É por isso compreensível que muitos de nós se sintam tristes e, em alguns casos, venham a sofrer de depressão. Importa, pois, distinguir estes dois conceitos – tristeza e depressão – que muitas vezes se confundem.
De forma simples, a tristeza refere-se a uma emoção negativa que pode surgir perante situações de vida difíceis: a perda de algo ou alguém importante para nós, desilusões com o trabalho e problemas de saúde são causas comuns de tristeza. Contudo, sentirmo-nos tristes perante tais situações é uma reacção normal e, de certa forma, adequada, já que mostra que somos capazes de reagir emocionalmente a eventos de vida… tristes.
Por sua vez, a depressão (chamada de Depressão Major pelos psiquiatras), trata-se de uma doença mental grave e cujas causas são muito complexas, podendo incluir eventos que nos deixam tristes, naturalmente; pode dizer-se até que a tristeza faz parte da depressão. Porém, a tristeza da depressão é diferente da tristeza “normal”. Na depressão existe uma tristeza mais profunda, negra e que imerge toda a nossa existência – extingue toda a alegria, energia e cor que temos dentro de nós. Mais ainda, esvazia-nos de qualquer esperança: nada vale a pena, tudo está perdido e nada será bom nunca, em lugar algum – a isto chamam os psiquiatras de “desesperança”.
Na depressão, a juntar-se à tristeza e à desesperança, temos ainda algo muito importante e terrível: a incapacidade de sentir qualquer tipo de prazer – “anedonia”, como lhe chamam os médicos. Os doentes deprimidos deixam de sentir prazer com aquilo de que gostavam habitualmente e a vida torna-se vazia, sem graça e sem sabor. Todos estes sintomas – tristeza profunda, desesperança e anedonia – fazem da Depressão Major uma doença incapacitante e, por vezes, mortal (pelo risco de suicídio).
Portanto, a tristeza é uma reacção normal perante situações de vida difíceis (e tristes), enquanto a depressão é uma doença mental grave que inclui um tipo de tristeza muito pesado e profundo.
Então, o que fazer? O primeiro e mais importante passo é… pedir ajuda. O médico de família é uma ajuda importante a que deve recorrer. Naturalmente, os psiquiatras também estão prontos a ajudar. Quanto ao tratamento, poderá passar por antidepressivos e, ou psicoterapia, dependendo de cada caso.
A depressão é mais do que estar triste: é não ter esperança. Mas para que a esperança não se vá no mar triste da depressão, peça ajuda e procure o seu médico.
Artigo elaborado por:
Daniel R. Machado
Interno de Psiquiatria do Centro Hospitalar de Leiria
(Rubrica “Falemos de Saúde Mental”, publicada mensalmente no Diário de Leiria)
(Rubrica “Falemos de Saúde Mental”, publicada mensalmente no Diário de Leiria)