Mitos e verdades sobre os medicamentos

Genéricos

Os medicamentos genéricos demoram mais tempo a fazer efeito e são mais baratos porque não têm a mesma qualidade?
Mito. Os medicamentos genéricos têm de obedecer a testes de bioequivalência antes de serem comercializados, de forma a garantir que o medicamento tem as mesmas propriedades farmacocinéticas (percurso que a medicação faz no corpo humano) e farmacodinâmicas (efeitos terapêuticos) do medicamento original, ou seja, libertam a mesma quantidade de substância ativa, durante o mesmo período de tempo que o medicamento original.
 
O preço dos medicamentos genéricos é mais barato que o preço dos medicamentos originais, uma vez que os medicamentos genéricos não têm custos de investigação. Quando um novo medicamento é lançado no mercado, o preço é geralmente mais alto, uma vez que o preço reflete o investimento no desenvolvimento do princípio ativo. 
 
Durante um determinado período de tempo, o laboratório que desenvolve o princípio ativo possui patente, sendo o único com autorização para comercializar esse medicamento. Uma patente é uma licença conferida por uma autoridade governamental que confere um conjunto de direitos ou um título durante um período de tempo definido, concedendo nomeadamente o direito exclusivo de impedir outras pessoas de fabricar, utilizar ou vender uma invenção. 
 
Na indústria farmacêutica isto permite que seja apenas a empresa que desenvolveu o fármaco a vendê-lo. O período de exclusividade permite que o proprietário da patente recupere os custos de investigação e desenvolvimento e obtenha um lucro razoável. No entanto, depois de a patente expirar, podem ser produzidas legalmente versões genéricas dos fármacos, sendo que a qualidade e eficácia são pré-requisitos que têm de ser sempre assegurados para a sua comercialização.

Toma de medicamentos
Não devo tomar os medicamentos com sumo, leite ou vinho?
Verdade. Tudo aquilo que come e bebe pode influenciar a forma como os medicamentos atuam no seu organismo. A este fenómeno dá-se o nome de interação medicamento-alimento.
 
Estas interações podem manifestar-se de duas formas:
- Os alimentos podem diminuir a absorção e impedir que o medicamento exerça o seu efeito terapêutico ou até desencadear reações adversas.
- Ou podem alterar a absorção e utilização dos nutrientes pelo organismo, conduzindo a estados de carência nutricionais específicos.
 
Existem medicamentos que não sofrem estas alterações, mas muitos são os casos em que a eficácia terapêutica é afetada pelo tipo de alimentos ou hora da toma.
 
Por este motivo, existem medicamentos que devem ser tomados em jejum, como é o caso da levotiroxina, uma hormona sintética utilizada no tratamento de reposição hormonal por insuficiente produção de tiroxina pela glândula tiróide, garantindo desta forma que toda a substância ativa é absorvida para a corrente sanguínea.
 
Por outro lado, existem alguns medicamentos que são mais bem tolerados quando tomados com alimentos, como é o caso dos anti-Inflamatórios não esteroides (por ex. ibuprofeno), que são irritativos para a mucosas gástrica.
 
O que deve fazer?
- Deve ler sempre o folheto informativo dos seus medicamentos e, em caso de dúvida, contactar um profissional de saúde, ou a linha SNS24 – 808 24 24 24
- Deve tomar sempre os seus medicamentos com água, salvo se o seu médico lhe indicar uma situação contrária.
- Nunca deve misturar medicamentos com bebidas alcoólicas, uma vez que o álcool pode aumentar ou diminuir os efeitos terapêuticos dos medicamentos.

Natural versus químico
O que é natural é sempre bom?
Mito. Os produtos ditos naturais, não são inócuos e deve ter cuidado sobretudo se tem alguma patologia ou se está a fazer algum tipo de medicação prescrita pelo médico. O mito do que é natural é sempre bom, deve ser desmontado pois representa uma ameaça à saúde pública. 
 
Enquanto que os medicamentos são regulamentados pelo Infarmed e necessitam de vários estudos antes de serem comercializados no mercado, os artigos desenvolvidos a partir de produtos naturais não são suficientemente estudados e controlados, representando mais riscos. Os produtos naturais devem ser tomados com as precauções de qualquer outro medicamento. As designações "derivado de plantas" ou "produto natural" não significam necessariamente que sejam inofensivos. 
 
Sempre que tomar alguns destes produtos deve informar o seu médico. Um simples chá pode estar a fazer-lhe mal ou a interferir no efeito terapêutico de algum medicamento prescrito pelo seu médico.
 
Quando a lista de medicamentos começa a crescer… reconciliação terapêutica é preciso fazer
A oferta de cuidados de saúde é cada vez mais diferenciada e diversificada. A população procura os centros de saúde, mas também os hospitais, e as medicinas alternativas. Por outro lado, podem também comprar medicamentos de venda livre e produtos de ervanária. É assim cada vez mais comum a utilização simultânea de múltiplos medicamentos e produtos de saúde, que leva ao aumento do risco de ocorrerem reações adversas a medicamentos, interações medicamentosas não desejadas, intoxicações e erros de medicação.
 
Face a esta realidade a reconciliação da terapêutica assume uma grande importância, pois pode prevenir todos estes perigos. A reconciliação terapêutica, ou conciliação terapêutica, consiste em avaliar toda a terapêutica que uma pessoa está a fazer, de forma a evitar erros de medicação, tais como omissões, duplicações, doses inadequadas e interações. Para isso, sempre que alguém procura uma consulta, ou vai ao hospital, deve levar a lista de todos os medicamentos e produtos de saúde que está a usar, de forma a que o médico possa comparar os medicamentos que já toma, com os que tem necessidade de iniciar. Por vezes é necessário alterar as doses, a hora das tomas, ou mesmo suspender algum medicamento.
 
Quando os doentes são internados no hospital podem necessitar de manter alguns medicamentos que já faziam em casa, de forma a não interromper tratamentos para situações específicas. Por outro lado, quando têm alta, o médico tem em consideração se há necessidade de alterar a medicação que a pessoa fazia antes do internamento, e a sua compatibilidade com os medicamentos novos que necessita fazer. 
 
A reconciliação da medicação está centrada na pessoa que o utiliza, e deve ser uma preocupação não só do médico, mas também dos farmacêuticos e dos enfermeiros, que têm grande responsabilidade no esclarecimento das questões relacionadas com os medicamentos. 
 
Não podemos esquecer que a utilização dos medicamentos não se limita à receita médica passada numa consulta ou no hospital, abrangendo também os medicamentos não sujeitos a receita médica, produtos naturais e suplementos alimentares. A responsabilidade pela segurança da utilização dos medicamentos começa pela própria pessoa que os utiliza, ou pelo seu cuidador, contudo os profissionais de saúde são parceiros nos cuidados, com conhecimento que permite esclarecer dúvidas, reduzindo assim os problemas que tantas vezes ocorrem por falta de informação.