«Continuamos no grupo de países que tem uma elevada taxa de utilização de antibióticos»

Sónia Pereira foi a oradora convidada da conferência do Centro de Investigação do CHL

«Continuamos no grupo de países que tem uma elevada taxa de utilização de antibióticos. É necessária uma prescrição racional de antibióticos», avisou Sónia Pereira, docente e investigadora na área da Microbiologia, na quinta conferência deste ano do Centro de Investigação do Centro Hospitalar de Leiria, que decorreu no dia 21 de junho, no auditório do Hospital de Santo André, em Leiria.
 
João Morais, coordenador do Centro de Investigação do CHL, deu as boas-vindas com uma introdução ao tema da conferência “Resistir até morrer… Ou matar? – o multi-problema da multi-resistência antimicrobiana”. O médico cardiologista destacou ainda que o uso abusivo de antibióticos é uma «preocupação assumida nesta casa, pois é um problema diário da prática clínica e apresenta-se relevante do ponto de vista da investigação». 
 
«Infelizmente é um problema que não existe só aqui, mas é nacional e internacional», concordou Maria Guarino, membro do CI/CHL e docente do Politécnico de Leiria, que fez seguidamente a apresentação do vasto percurso académico e profissional de Sónia Pereira.
 
A convidada do CI/CHL fez uma pequena resenha histórica sobre as primeiras descobertas ao nível da microbiologia e do estudo das diferentes bactérias e das suas resistências. Sónia Pereira alertou para a problemática da multirresistência das bactérias aos antibióticos, e revelou que se prevê que a principal causa de morte em 2050 sejam as infeções oriundas da resistência aos antibióticos. «As bactérias ficam mais multirresistentes, já que transferem DNA entre elas, e com esses elementos genéticos móveis conseguem sobreviver nos meios onde estão», explicou a oradora.
 
«É premente otimizar as políticas de prescrição, diminuir a contaminação cruzada, reduzir as infeções, bem como a duração dos internamentos, pois permite reduzir custos promovendo altas mais precoces, e reduz-se o risco de contaminação», salienta Sónia Pereira. «Ainda faltam alternativas diagnósticas mais eficazes, e respostas de natureza epidemiológica mais rápidas. Temos falta de alternativas terapêuticas, novos fármacos e novas abordagens, pois não esqueçamos que o pipeline para os novos fármacos demora cerca de 20 anos. A realidade é que de 100 moléculas que temos numa fase inicial, apenas uma chega ao mercado», indica a investigadora.
 
No final da conferência, a oradora concluiu que «para tratar bem é preciso diagnosticar bem. Há muito caminho a fazer, em todo o lado. É preciso educar a população para mudar as suas rotinas, e todos sabemos que modificar hábitos é muito difícil. A mentalidade até pode mudar mas demora tempo, e no entretanto as bactérias vão ganhando terreno, com mutações de resistência aos nossos antibióticos». 

25 de junho de 2018