Inovação terapêutica e foco na dimensão espiritual são fulcrais no tratamento dos doentes com cancro

Conferência no CHL assinala o Dia Mundial de Luta contra o Cancro

“Conviver com o cancro” foi o mote da conferência organizada pelo Centro Hospitalar de Leiria, que assinalou o Dia Mundial de Luta contra o Cancro, no dia 4 de fevereiro, no auditório do Hospital de Santo André, em Leiria. Dirigida a profissionais, doentes e suas famílias, a conferência evidenciou a inovação terapêutica como forte aliada no tratamento para o cancro, e realçou a necessidade de acompanhar a dimensão espiritual da pessoa que lida com esta doença. 
 
Gabriela Sousa, diretora do Serviço de Oncologia Médica do IPO de Coimbra, apresentou uma síntese da evolução dos tratamentos para o cancro, com o incremento da inovação terapêutica, que tem impacto no aumento da esperança média de vida. A cirurgia era em 1846 a solução médica para os casos de oncologia; em 1901 apareceu a radioterapia, e em 1946 a quimioterapia; as terapêuticas- alvo surgiram em 1997, e em 2010 iniciou-se a imunoterapia. «Todos os anos há milhares de moléculas a serem desenvolvidas, o que acaba por modificar a forma de tratamento do cancro», explicou Gabriela Sousa. «Investimos tudo na compreensão da doença, estabelecemos uma série de características inerentes ao cancro, para depois desenvolvermos mecanismos que as contrariem em termos terapêuticos».
 
«Conseguimos cada vez mais individualizar cada tipo de cancro, administrando medicamentos dirigidos a cada alteração e aos efeitos secundários que podem ter, de forma a potenciar maior qualidade de vida aos doentes», referiu a médica. «O cancro como doença viva está num organismo vivo, que se consegue adaptar e sobreviver aos nossos tratamentos, o que torna a luta muitas vezes desigual».
 
Gabriela Sousa destacou ainda o conceito de sobrevivente, para o qual há muitas definições, mas que se resume essencialmente na pessoa com cancro, familiares, amigos, cuidadores ou outros afetados pelo diagnóstico de cancro. «Implica reaprender a viver, com as sequelas dos tratamentos, as alterações nas relações sociais, familiares, com as angústias, os medos e hesitações que permanecem», salientou Gabriela Sousa. «A nossa missão enquanto profissionais é ajudar o doente a vencer as sequelas dos tratamentos. Acompanhá-lo, ajudá-lo a reaprender a (con)viver!», rematou a médica.
 
Ângela Coelho, membro da Direção Clínica da Unidade de Cuidados Continuados da Batalha, abordou a questão da espiritualidade no cancro. A médica começou por citar Antígona com a frase «Eu sou aquela que não aprendeu a ceder aos desastres», para destacar que o cancro é um acontecimento biográfico total, ao nível biológico, psicológico, social (e também familiar), e espiritual.
 
Após o diagnóstico, o doente interroga-se sobre o sentido da vida. «Vamos negligenciando esta dimensão. Quando comunicamos a doença, o doente pergunta-nos “Quanto tempo tenho de vida?”, porque além da dimensão física e da dor, todo o tempo fica redimensionado. Tudo fica destruturado», frisou Ângela Coelho. «É fundamental termos noção das necessidades espirituais do doente. Ele deve ser bem acolhido, reconhecido como pessoa. Por isso, temos [profissionais de saúde] de estar atentos e valorizar o que nos nossos doentes fazem na sua vida profissional ou pessoal».
 
«Devemos potenciar a dimensão espiritual dos nossos doentes. Termos a aceitação incondicional de que cada ser humano é único e irrepetível; termos empatia, colocando-nos no lugar do nosso utente; utilizar os mecanismos da palavra e do toque. E, por fim, termos uma atitude de autenticidade para com o doente, não nos esquecendo da nossa própria dimensão espiritual», realçou a médica. Ângela Coelho terminou a sua intervenção com o lema «acredito que a vida seja infinita enquanto dure».
 
Para a edição de 2019 do “Reagir” estão previstas, além da conferência, outras ações: uma caminhada no dia 10 de fevereiro, domingo, com concentração no Largo de Papa às 9h30, e que passará pelo percurso Polis até regressar ao mesmo local; uma corrida/caminhada no dia 13, quarta-feira, pelas 21h30, na Praça Rodrigues Lobo, em que os profissionais e amigos do CHL se juntam à Brisas do Lis Night Run, num percurso que passará pelo HSA; e ainda a “Gala Reagir 2019”, um espetáculo solidário que decorrerá no Teatro José Lúcio da Silva no dia 16 de fevereiro, sábado, pelas 21h30, com a participação de artistas leirienses de várias áreas, como a dança, a música e o teatro.

4 de fevereiro de 2019